Maria era secretária, atuava
nesta mesma função, tempo suficiente para receber a promoção que tanto
almejava, queria ser Assistente do Diretor. Mas Maria continuava lá, atendendo
o telefone, marcando e controlando compromissos da chefia e demais colegas, digitando
diversos documentos, enfim executando suas tarefas.
Fazia faculdade a noite, e
também estudava inglês, estava sempre se capacitando, mas não saia do lugar. Porquê?
O que acontecia com ela? Muitas de suas colegas haviam sido promovidas para
“ene” cargos com menos tempo, porque ela não era vista?
Conheci Maria em meu
primeiro dia de trabalho, foi a primeira pessoa a me receber, atenciosa,
cordial, bem arrumada, enfim, gostei dela à primeira vista.
Comecei a exercer minhas
funções e sempre que utilizava os serviços dela, me encantava, ela era
profissional na medida, era alegre, sabia se comunicar e seus serviços eram
sempre feitos com esmero, nunca precisei pedir a mesma coisa duas vezes, ela
atendia e entendia de pronto, o que era solicitado. Percebi o quanto ela era
inteligente, o quanto era perspicaz, enfim o “quanto” ela era perfeita naquilo
que fazia.
O tempo passou, e mais ou
menos, dois meses depois de estar lá, e com mais tempo livre para observar,
percebi que havia algo errado com ela, porque alguém que realiza tão bem suas
atribuições, fica na mesma função tanto tempo? Comecei a indagar a mim mesma,
será que ela gostava tanto assim, que não queria fazer outra coisa?
Aquele ponto de interrogação
em minha cabeça começou a me fazer observar Maria melhor, como suas atitudes
nas reuniões, sempre que uma opinião era solicitada ela anotava algo, então eu
pensava, ela vai falar, mas nada, calada estava e calada ficava até o final.
Sempre assim, dia a pós dia, reuniões e mais reuniões. Anotava sempre quando
opiniões eram solicitadas e também quando outros colegas expunham suas ideias,
mas nada, nem uma tentativa, minha curiosidade aguçou mais ainda, o que ela
anotava? Já estava em cólicas de tanta curiosidade.
Então, comecei a sondar
colegas, claro que com descrição e muita sutileza sobre o que achavam do
trabalho dela, etc. A maioria elogiou muito e não consegui nada, mas um dia,
num bate papo informal, uma menina que estava sempre com ela no intervalo de
almoço, me disse algo mais ou menos assim:
_ Maria é ótima, muito
inteligente, esforçada, mas se desmotiva fácil.
Perguntei:
_ Como assim?
_ Ah, Maria almeja um novo
cargo, mas se alguém disser a ela que é impossível, porque ela não tem qualquer
atributo ou sei lá o quê, ela desiste. Na realidade, Maria é uma coitada que
acredita sempre na opinião dos outros, é a verdadeira Maria vai com as outras,
já cansei de falar, mas ela escuta o que quer.
Fiquei estupefata, tinha
descoberto o motivo, Maria não conhecia a líder que existia dentro dela, não
acreditava no seu potencial de verdade, deixava que suas crenças limitantes, e
a opinião alheia falassem por ela. Mas minha dúvida em relação ao que ela tanto
anotava, ainda me deixava muito curiosa, você também deve estar, não é?
Pois bem, pensei, vou ajudar
essa menina a despertar esse potencial todo. Mas falar com sua chefia direta ou
mesmo levar isso para outra pessoa, poderia piorar a situação, ela precisava
ser treinada a pensar, ser reprogramada, adquirir autoconfiança, acordar a
líder adormecida dentro dela, e naquela época a empresa dispunha apenas de um “Departamento
de pessoal” que era responsável pela parte burocrática, como admissões e
demissões, folha de pagamento, etc., uma efetiva Gestão de RH inexistia, sendo
assim, não existiam práticas e técnicas definidas com o objetivo de administrar
o comportamento e potencializar o capital humano.
Então, falei com o Diretor,
e solicitei uma pessoa para trabalhar comigo, expus meus motivos e
necessidades, e ele me atendeu prontamente, pois entendeu o quanto eu estava
sobrecarregada naquele momento, apenas me perguntou de que forma eu o faria, se
poderia aproveitar um funcionário interno ou iria solicitar recrutar alguém de
fora.
Respondi de imediato, que
queria aproveitar Maria, a secretária.
Ele me olhou como se a bomba
atômica tivesse sido explodida ali mesmo, e me disse:
- A Maria? Tu realmente me
surpreendes, ela é ótima no que faz, mas acredito que seja só para isto que
sirva, pois não tem iniciativa, não dá opiniões nunca, não se candidata as
vagas internas, enfim parece mais um robô do que alguém competente de fato.
Respondi com um clichê, pois
foi a primeira coisa que me veio à cabeça, vendo-o falar dela daquela forma:
_ Uma pedra bruta só vira
diamante se for lapidada, será que o senhor me permite fazê-lo?
_ Está bom, confio em você.
Faça, mas quero resultados efetivos.
No outro dia cedinho, Maria
foi chamada ao Departamento pessoal e informada que havia sido transferida de
função e depois encaminhada a minha sala.
Lembro como se fosse hoje,
estava petrificada, me olhou e disse baixinho:
_ Desculpe-me, mas acho que
a senhora se enganou, eu ainda não tenho a experiência que o cargo exige e
gostaria que a senhora reconsiderasse e me deixasse voltar ao meu lugar.
_ Se pedi você é porque
acredito ser a pessoa ideal para trabalhar comigo, pegue suas coisas e
ajeite-as em sua mesa, respondi.
Comecei dando-lhe serviços
mais simples e fui ganhando sua confiança, conseguindo tirar dela todo aquele
medo e insegurança que tinha e a impediam de realmente mostrar seu verdadeiro
potencial, utilizei diversas técnicas de PNL (programação neolinguísticas),
poder mental, emprestei livros sobre liderança e auto domino, sem ela sequer
perceber o porquê de tudo aquilo, aproveitei o fato dela ser “Maria vai com as
outras”, ela iria acatar e fazer, e ela o fez. Foi se soltando, percebendo que
podia um pouco mais a cada dia, ganhei sua confiança e sua amizade. Começou a
questionar, no início timidamente, e com o tempo se soltou, então um dia, em
uma de nossas tantas reuniões, alguém pediu uma opinião, para minha surpresa
Maria anotou, para logo após levantar a mão e falar, confesso a vocês que,
quase levantei e a abracei. Após olhares aturdidos dos colegas, Maria falou e
não só o fez, como apresentou a melhor solução para o problema exposto. Aquele
caderno que ela trazia sempre nas reuniões, era “aprendizado” dizia ela,
pasmem, era onde anotava todos os problemas apresentados e onde escrevia sua
opinião e na maioria das vezes a solução.
Quanto tempo gasto com
soluções desnecessárias poderiam ser evitados, quanto tempo na mesma função
poderia ter sido melhor aproveitado se, Maria conhecesse a si mesmo,
acreditasse em si, percebesse o líder interno adormecido, e pudesse criar asas
e voar.
Mais tarde indiquei a ela cursos,
leituras, etc., que pudessem ajudá-la a se tornar cada vez mais senhora de si, mostrei
a ela que quando se quer algo verdadeiramente, é só buscar, que a lei da ação e
reação é real, você busca, você recebe, que se houver foco e determinação real,
nada poderá lhe impedir de chegar aonde você se propor a ir.
Mas, a lição que tiramos
daqui é que nunca duvide de você, nunca se desmereça, você é merecedor de tudo
que é bom, você pode liderar outras pessoas se souber liderar a si mesmo, você
não deverá nunca atropelar alguém pelo caminho para encurtá-lo, mas trilhá-lo
com decisão e sabedoria, saber “ser” humano, saber deixar para trás tudo aquilo
que te demove de seus sonhos e objetivos. Não deixe que seu trabalho se torne
um estorvo, aprenda a saber o que quer, o que realmente te realiza, depois
lidere. E, sendo líder saberás identificar outros, naquela época por motivos
diversos, nenhum chamado “líder de equipe” foi capaz de enxergar Maria, nenhum
entre todos e, não eram poucos, foram capazes de perceber aquele potencial, estavam
tão centrados em seus próprios umbigos, que não conseguiam ver além.
Peço que reflita sobre seu potencial, Emily Dickinson dizia, com toda
razão, que “as pessoas ignoram própria altura até se colocarem em pé”.